04 dezembro, 2009

Não são os barcos...


...que formam as ondas do mar, as pedras pequenas não nascem debaixo das pedras grandes, o trovoada não existe porque as nuvens se esbarram, o arco-íris não bebe a água do rio, o sol não anda à volta da terra.

Hoje sei que as ondas do mar não param quando o barco ancorou, e a vida não pára para me ver chorar quando fico ancorada nas mágoas. Trago pedras nos sapatos, e há outras em que tropeço. Hoje são degraus, um dia serão um castelo. Depois da tempestade vem a bonança. Seguir o curso do rio não me impede de pintar o caminho com as cores que eu quiser. E por mais severa que seja a escuridão, cada dia, o sol volta a nascer

MariaPapoyla

28 novembro, 2009

Hoje, o sol nasceu...


....mas a noite perdura. Acordaste, e o teu corpo preso à cama. Queres pedir ajuda, mas a tua voz não se ouve. Sentes o mundo pesado. Não sabes o que aconteceu. Ouves os pássaros a cantar do lado de lá da janela do quarto, o ranger da porta de casa, o grunhido da mota a arrancar. O mundo gira depressa à tua volta: o mundo. Dentro de ti: a vertigem. O medo gelou ainda mais o teu corpo imóvel. Nenhum esforço é bastante para vencer o peso do mundo sobre ti. O mundo é pesado sobre o teu corpo frágil. Fechas os olhos e de súbito voltas a abri-los, na esperança de acordar. De novo o peso do mundo e a vertigem dentro de ti.

Aconteceu. Tu ainda não sabes, mas vais travar uma longa batalha. Batalhas seguidas de batalhas. Será um caminho longo: um caminho de coragem. E vencerás, dia após dia, se não for hoje, amanhã. O mundo será menos pesado, e a vertigem será menor. 

MariaPapoyla

13 novembro, 2009

Ela. De seu nome...


...Maria, de seu ventre fértil, de seu primor. Ele. De seu nome Manel, de seu arrojo, de seu encanto. Parecem dois bailarinos a rodopiar ao ritmo de uma sinfonia de amores que amarra o coração como uma fita de seda que se chama bem-querer. E os dois corações ficam juntos numa harmonia sem igual, que não se pode explicar a não ser pela vontade de percorrer a dois um caminho que não é certo. Não têm a certeza do dia de amanhã, mas fazem planos, juntos, planos de dois corações enamorados, de uma só vida, de uma mesma caminhada

MariaPapoyla

05 outubro, 2009

As cartas de amor...


...que escrevi para ti tinham outro destinatário. Esses teus olhos que me estremeciam a alma eram de outra pessoa. O sorriso dos teus lábios era de alguém que não tu. Dentro de ti, o teu coração batia diferente dentro dos meus ouvidos. As promessas que fizeste eram de um contracto que tu não assinaste. Foste o príncipe encantado de uma história que eu vivi e que não era a minha.

Essa história ficou gravada no meu coração traído e magoado, incompreendido. Ficou escrito, como numa pedra, cada mágoa, cada passo errado, cada poesia inacabada, cada carta de amor perdida. No coração, ficou escrito, como um aviso para não voltar a percorrer esse caminho, como um pedido de socorro eterno.

Hoje, olho para ti, e já não ouço o teu coração dentro dos meus ouvidos, nem o meu coração dentro de mim. Há uma nuvem entre nós que já não me deixa ver os teus olhos que não são teus. As promessas de outrora são agora borboletas zonzas, solitárias, peças de um puzzle que não consigo encaixar. São pedaços de ilusão, de mentiras, promessas de um amor eterno de que o tempo se esqueceu para sempre.

MariaPapoyla

03 outubro, 2009

02 outubro, 2009

Era uma vez...


...uma caixinha de vime que guardava segredos de papiro. Suspiro ao lembrar deste velho sonho. Suponho que ainda lá esteja guardado. Amarrado ao coração ainda o trago. Embargo nos pensamentos ao impedirm-me de sonhar. Apesar de pequenina bem sabia o meu desejo. Vejo-o agora longe com este par de olhos que se enchem de emoção. Paixão por esta vida no meu coração de menina. Bailarina numa caixinha de vime.

Ela trazia, no coração, a música. A melodia estava na ponta dos dedos e a dança na ponta dos pés. Bastava dar corda à imaginação. Pintava no céu celeste com pincéis de harmonia. Erguia-se na ponta dos pés como quem canta às estrelas um refrão preso à terra. Assim caminhava na pauta da vida, degrau a degrau as colcheias são aguarelas e a clave de sol a chave de uma felicidade que não tem porta para abrir. E a caixinha de música, que era o coração, ficou fechada para sempre. Agora, resta-lhe dar à corda para que a bailarina continue a dançar. 

MariaPapoyla

20 setembro, 2009

Dizes...


...que não gostas do meu fado
E nem o queres ouvir cantar
E nem queres ouvir chorar
O meu coração magoado.

MariaPapoyla 

09 setembro, 2009

O soldado de chumbo...


...não caíu da janela do quarto de uma criança, nem foi levado pelo curso de água num dia de chuva, como acontece nas estórias. O soldado de chumbo estava pousado a um canto, numa estante, ao lado de livros nunca lidos. O soldado de chumbo olhava em frente, para o cadeirão no canto oposto do quarto.

A boneca de trapos não foi oferecida por uma avó pasmada à sua neta predilecta, como acontece nas estórias. A boneca de trapos estivera desde sempre pousada no grande cadeirão a um canto do quarto. A boneca de trapos olhava em frente para a estante de livros nunca lidos. 

Os olhos da boneca de trapos eram botões de rosa que floresciam quando o sol da primavera espelhava no rosto do soldado de chumbo. Quando as nuvens carregavam o céu escuro e as paredes do quarto ficavam húmidas de tristeza infindável nos trilhos da esperança, não. O seu pobre coração de algodão ficava pequeno. As pétalas das rosas desprendiam-se e espalhavam-se pelo chão. Não podia mais vê-lo. O soldado de chumbo não compreendia. O seu coração era forte, alma de guerreiro. Sol e chuva eram iguais. O calor e o frio não o afectavam. Era de chumbo e não de trapos. A boneca de trapos tinha longas tranças de lã. Com o passar do tempo ficaram gastas. O soldado de chumbo tinha um chapéu de chumbo. Com o passar do tempo, nada mudou. O vestidinho da boneca de trapos era desbotado. Gravavam-se nele mãos de crianças em brincadeiras incautas mas de amor de verdade. O fato do soldado de chumbo mantinha-se igual. Gravavam-se nele apenas a solidão, uma dezena, ou duas, de anos, apenas pousado numa estante de livros nunca lidos. Somente a boneca de trapos o olhava quando era primavera. Era inverno e a janela do quarto não vedava completamente a passagem de correntes de ar. Era inverno e o sol não entrava pela janela. Era inverno e um sopro de melancolia de dias desesperados entrou no quarto e abanou a estante de livros nunca lidos. O soldado de chumbo vacilou. A boneca de trapos sentiu o coração de algodão encolher. O soldado de chumbo vacilou uma vez mais. O coração de algodão da boneca de trapos encolheu mais um pouco. O soldado de chumbo caíu no chão e partiu. Partiu do olhar da boneca de trapos sem que ela o pudesse ver. Era inverno e o seu coração estava pequeno. Mas quando vier a primavera, os botões de rosa voltarão a florescer

MariaPapoyla

03 setembro, 2009

Par tis te...


Sem olhar para trás.
Sem te preocupares com a dor
Sem dúvidas no teu olhar. 
Sem remorsos no coração. 

Com armas de paz. 
Com coragem de lutador. 
Com um sorriso para partilhar. 
Com orgulho e paixão. 

Ficou a saudade voraz. 
Ficou o fado promissor
Ficou a fadiga de esperar. 
Ficou a eterna palpitação

MariaPapoyla

30 agosto, 2009

O rapaz índigo...


...não era daqui. Vivia numa nuvem, bem lá no alto do céu. A princesa dos olhos dele tinha uma casa numa estrela. Não tinha paredes de tijolo nem telhado de telhas. Era de imaginação. O rapaz índigo tinha um coração de vento. A princesa dos olhos dele tinha um coração de sonhos. O rapaz índigo sonhava com o amor. Não passa o vento nas estrelas. O vento é da terra. A princesa dos olhos dele não sonhava, mas conseguia imaginar que força fazia mover as nuvens. À noite, deitado na sua nuvem, o rapaz índigo ficava a olhar as estrelas. A estrela da princesa dos olhos dele brilhava, agora, nos seus olhos. Via o coração dela cheio de sonhos, que eram de imaginação. Rendido aos seus encantos, desejou mostrar-lhe a força que fazia mover as nuvens. Abriu o seu coração de vento, mas o vento é da terra e não passa nas estrelas. Então, fez muita força, tanta força que as nuvens chocaram e houve um grande trovão. A princesa dos olhos dele estremeceu e caiu. Os sonhos de imaginação pairavam agora sobre a terra. De manhã, ao perceber que nunca mais aquela estrela iria brilhar, o rapaz índigo chorou. Eram lágrimas de rapaz índigo a cair sobre a terra. É por isso que o mar é azul.

MariaPapoyla 

29 agosto, 2009

Vou...


...pintar com um pincel de todas as cores
Uma rua perdida
Sentir todos os cheiros, todos os sabores
A saudade esquecida
Eu sei que vou encontrar um novo abrigo
Passa o rio pela ponte
E por esta estrada o meu destino eu sigo
Vou desaguar numa fonte

Talvez eu vá chegar mais cedo ao encontro
Do que estava previsto
As torradas estão ao lume, o café está pronto
Vou ficar, eu insisto
Será do teu olhar, desse jeito encantador
Que me embala e adormece
Conta-me histórias e vem ter comigo ao sol-pôr
Vem ouvir a minha prece

Conta-me baixinho para não me acordar
O segredo que é só nosso
Fica comigo, abraça-me, vamos sonhar
Sozinha eu não posso
Quando eu sair daqui quero ir contigo
Se voltar quero te ver
Quando fugires de mim fica comigo
Dá-me um novo amanhecer

MariaPapoyla 

24 agosto, 2009

Escondo...


...atrás de um sorriso
As lágrimas que querem escorrer; 
Já nem sou capaz de fazer 
Aquilo que mais preciso. 

MariaPapoyla

07 agosto, 2009

Há um lugar...


...para lá do rio
Em que o vento sopra e não faz frio  
Onde posso andar de cara lavada
E ser como sou sem que se levante uma espada
É um lugar onde nasce o sol
Onde a brisa soa como uma clave de sol
Onde dou asas à imaginação  
E vivo ao ritmo da minha pulsação

Quero ficar neste lugar
Neste mundo, neste presente  
Encruzilhar o medos
Soltar os segredos
Numa canção
Eu vou ficar neste lugar  
Neste mundo, aqui para sempre
Parar o tempo  
Guardar este momento  
Na palma da minha mão

MariaPapoyla 

03 agosto, 2009

Sinfonias...


São como bolas de sabão 
Imensamente dispersas  
Nunca colidem  
Fazem bater o coração 
Ostentam promessas  
Nunca desiludem  
Ilusões de que me fiz poeta 
Amanhece quando o sol se deita 

MariaPapoyla

01 agosto, 2009

Já me disseram...


...que nunca é tarde, e no entanto, hoje, parece que o tempo acabou. A esperança está por um fio. Sinto-me num beco sem saída onde já não há volta a dar. De volta aquela sensação estranha de ter ganho todas as batalhas, chagar ao fim e perder a guerra.

Sinto: por muitas velas que acenda, nunca vão substituir a estrela que se apagou. Ou talvez nunca tenha existido, talvez tenha sido só eu a imaginar. Talvez ainda lá esteja, e eu não a consiga ver.

Sei: não posso voltar atrás e começar tudo de novo. Vou começar agora e fazer um novo fim.

Espero: quando a tempestade passar, voltar a ver a luz dessa estrela (que me mostre o caminho de volta).

MariaPapoyla 

04 julho, 2009

Tu...


...és aquela pessoa. Tu sabes.
 
Foram estas as palavras que me fizeram pensar em ti noite e dia, e no que querias dizer. E continuo sem saber o que querias dizer... Passei noite e dia a imaginar e a viver em sonhos aquilo que não passou de imaginação e de sonhos.  

Talvez não te tenha dado atenção... Talvez tenha desperdiçado aquele tempo a pensar no que me querias dizer quando talvez fosse tão óbvia a resposta... Talvez tenha sido tempo demais...

MariaPapoyla 

03 julho, 2009

Às vezes...


...forte, esse olhar que me estremece.
Às vezes meigo, esse olhar que me amolece.
Às vezes distante, esse olhar que me atordoa.
Às vezes sincero, esse olhar que me perdoa.
Às vezes alheio, esse olhar que me trespassa.
Às vezes amável, esse olhar que me abraça.
Às vezes não sei por onde vagueia esse olhar...
Mas sei que gosto que pouse em mim a contemplar.

MariaPapoyla

Há dias...


 ...em que me apetece escrever, mais do que fazer qualquer outra coisa.

Escrever só por escrever, escrever porque preciso, porque me moem os sentimentos, porque me assalta esta vontade de deitar tudo cá para fora.

Porque há coisas que não podem ser ditas de outra forma quando se ama, quando se odeia, quando o coração é maior que a própria alma, as lágrimas inundam o meu ser e teimam em não sair.

Quando o sorriso é tão grande que não cabe no corpo, quando a vontade de rir ensurdece o mundo.

Por isso escrevo, torno-me mais leve, e tornando-me mais leve, assim perduro... até novo alvoroço.

MariaPapoyla