...de flores amarelas na margem de um rio de águas límpidas. Havia um jardim de lindas flores amarelas que sorriam na margem de um rio de águas límpidas e bamboleantes. E havia um castelo, que tinha uma torre, que tinha uma janela oval, que tinha uma donzela descalça, que tinha um coração sofrido e uma alma ferida. Havia um jardim de flores amarelas na margem de um rio de águas límpidas e uma donzela descalça, um coração sofrido e uma alma ferida.
O vestidinho de rendas roçava-lhe a pele delicada quando o vento entrava pela janela do castelo. O vento também lhe arrepiava a alma, despida, e o coração de mágoas. Os seus lindos caracóis dourados esvoaçavam e, por vezes, escondiam-lhe o sorriso que já não existia e tapavam-lhe o brilho que já não reluzia no seu olhar. Era primavera no jardim de flores amarelas, e inverno no seu pobre coração. Amava-o do alto da torre do seu castelo. Amava-o e gelava o seu coração depois de cada esperança. Depois de cada esperança, gelava o seu coração por não passar apenas disso, de esperanças soltas no tempo e levadas pelo vento. Nos seus olhos, via-se-lhe a alma vazia. No peito, o coração estava gelado. Para onde ia a esperança? Para onde vai a esperança quando perdemos um amor que ainda não encontramos?
Num dia de primavera no jardim de flores amarelas, mas de inverno no coração da donzela descalça, algo de inesperado aconteceu. Algo inesperado que já havia acontecido muitas outras vezes e que se transformou em esperança e que o vento levou. Mas desta vez, como de todas as outras vezes, a donzela descalça sentia que o vento iria deixar de atormentar o seu pobre coração. Mais uma esperança, mais uma oportunidade para sonhar, talvez para voltar a sorrir! Era o gato das botas que voltava, que lhe alimentava o ego, que a fazia voltar a sonhar e talvez, até, sorrir! A peça que lhe faltava, que lhe vestia a alma de flores, outrora despida. Até quando? Até quando dura o para sempre? Quantas mais esperanças o vento levará?
MariaPapoyla
2 comentários:
O "para sempre" pode ser até amanhã, até para o ano, até o tempo de uma borboleta bater as asas ou até concretizarmos algo, nem precisa ser um sonho....o "para sempre" caminha com o "jamais": expressões que tanto usamos e nos atraiçoam.
Mas as "esperanças" que o vento leva, de nova trará....
Lindo este teu texto!
Muito bom!
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